Grand Theft Auto: The Ballad of Gay Tony
Adágio gangster!
Com The Ballad of Gay Tony, a Rockstar North concluiu a iteração para a moderna geração de consolas em torno da avassaladora Liberty City, o mesmo espaço que rompeu com GTA 4 e para a primeira expansão Lost & Damned, lançada em Fevereiro deste ano. Ambos os desenvolvimentos constituem pecúlio exclusivo da máquina da Microsoft, mas é pela apreciável dimensão destes conteúdos adicionais e pelas diferentes perspectivas e abordagens às figuras de cartaz que mais se justifica a indispensabilidade para quem começou por seguir de perto a homenagem satírica à Nova Iorque dos tempos correntes.
Não só as diferentes histórias formam um sentido de completude como os produtores foram habilidosos ao ponto de cruzar amiúde pontos das narrativas. Em Gay Tony algumas missões colocam nos dois lados da mesa heróis e personagens de GTA4 e Lost & Damned. A interacção entre as personagens é escassa, mas ainda suficiente para colocar o jogador do outro lado da demanda e sentir uma certa tensão por ver agora, livres e atiradas ao livre arbítrio, as personagens que acompanhara anteriormente. De certo modo há uma paródia e sátira aos momentos anteriores deste percurso de GTA, como tem sido timbre dos irmãos Houser, habilitados a contar e produzir uma narrativa pejada de estilos e referências com sinónimo de absoluta independência.
O jogador enverga desta vez o traje de Luis Fernando Lopes, um negro bastante liberal de ascendência mexicana que é o braço direito e guarda-costas de Tony Prince, o gay rei da noite em Liberty, dono dos principais espaços nocturnos, embora essa pretensão seja o trampolim para novos e difíceis problemas, nem sempre encarados da melhor forma. Ao contrário de Niko Bellic, Luis não chega de barco à capital. Não vem à procura das promessas e do sonho americano. É um homem dos meandros do crime de Liberty City. O tráfico de droga conduziu-o à prisão quando ainda era um jovem capaz de seguir um outro rumo. No entanto é uma personagem relativamente pacífica, com uma certa margem de ética, nem sempre condescendente com abusos e exageros, mas permeável aos princípios e incapaz de faltar às promessas que faz para com quem estabelece uma relação de confiança.
Por força do trabalho Luis é um homem da noite, residente dos bares mais galardoados e tentado a invadir a pista de dança quando vê bons motivos para isso. E se dúvidas houvesse quanto à sua orientação sexual, ficaram logo despistadas depois das cenas introdutórias. O “flirt” com uma mulher de trajes menores foi imediato e após uma dança próxima e escaldante cumprida a um ritmo sonoro frenético não tardou a passagem fugaz e suada pela casa de banho. É um café quente servido ainda a procissão nem abandonou o adro, mas pondo o destaque nas tarefas e objectivos que o patrão lhe reserva de imediato se descobre a dimensão deste episódio.
A vida nocturna forma por isso um dos principais atractivos nesta expansão, daí o particular cuidado em criar e conceber bares e outros espaços, com diferentes ambientes, habilitados a promover divertimento para lá do esforço das arriscadas missões. Neles Luis poderá dançar, beber um copo, tratar dos assuntos ao nível da administração e até facilitar a entrada de mulheres bonitas. Entre os principais espaços o destaque vai para o bar Bahama Mamas (sem mais), com uma sonoridade atractiva, com ritmos de beat e electrónica onde a pista colorida é o principal palco para a dança. As danças bem executadas e com ritmo premeiam o tempo investido. As mulheres ficam rendidas. O Maisonnete 9, um bar exclusivo e de acesso restrito a membros, fundado por Tony Prince acaba por ser um dos principais bares, onde é frequente encontrar o Rei da noite. Hercules tem uma outra definição, embora seja dos mais cotados: é o bar tendencialmente masculino, o mais famoso bar gay, onde os homens pintam o tronco em dourado e vestem calças ajustadas, dançando a ritmos frenéticos.
Sobre os objectivos das missões, há uma grande variedade, pelo que não é tão frequente e rotineiro o confronto armado e directo nas ruas. Embora alguns locais concretos, como cais, aeroporto e a feira popular sejam espaços privilegiados para confrontos do tipo guerrilha. Assim, enquanto que em GTA 4 só numa fase mais avançada do jogo era dado o acesso a helicópteros, em Gay Tony, desde cedo Luis é chamado a cruzar os céus de Liberty City e até usar um aparelho fortemente armado para erradicar grupos de terroristas fundeados ao largo da cidade numa lancha de grande requinte. A experiência colhe mais novidade quando o guarda-costas de serviço passa a envergar um espesso colete e que se transforma num ápice num pára-quedas, ideal para poisar com suavidade em qualquer ponto da cidade depois de se atirar do helicóptero ou saltar de um arranha céus numa altura em que os inimigos armados ganham primazia.