Hotline Miami - Análise
A febre dos anos 80.
Hotline Miami é um dos poucos jogos que pode ser classificado como sendo único. E adivinhem, para ser único não foi necessário um orçamento multimilionário que tem que ser justificado por milhões de unidades vendidas. Com um orçamento baixo, a melhor forma de prevalecer é ser original, e neste aspeto, Hotline Miami transborda. Não é um espanto que tenha sido considerado um dos melhores jogos independentes de 2012, e cujo sucesso resultou nesta versão para a PS Vita (e também para a PS3) e numa sequela que já está em produção.
Este não foi o meu primeiro contacto com Hotline Miami. Comprei e joguei a versão para PC no início deste ano. O que me cativou inicialmente foi aquele vibe dos anos 80, uma época pela qual confesso que tenho um fraquinho, mas rapidamente descobri que Hotline Miami é muito mais do que isso. A jogabilidade rápida mas simples, e o desafio de superar níveis cada vez mais difíceis, rapidamente se entranharam e num ápice fiquei conquistado pelo seu carisma.
Quando surgiu a oportunidade de analisar esta versão para a PS Vita surgiu, nem sequer pensei duas vezes, embora tenha que admitir que tive receio que os controlos adaptados para a portátil não respondessem tão bem como no rato e teclado. Não podia estar mais enganado. A adaptação foi rápida e numa questão de minutos estava a jogar sem qualquer incômodo. Devo sublinhar que não me senti limitado de nenhuma forma e que não senti um aumento na dificuldade por virtude dos controlos. Os controlos são especialmente importantes em Hotline Miami devido à precisão necessária e às reações rápidas que exige do jogador, além de que o jogo, por isso só, já é bastante desafiante na primeira playthrough
Com a questão dos controlos posta de parte, considero que esta é a melhor versão de Hotline Miami. Em primeiro lugar porque assim pode-se jogar em qualquer lugar e a estrutura do jogo é perfeita para curtas sessões. O segundo motivo deve-se à arte retro (pixelizada) do jogo, que num ecrã de 1080p ou até de maior resolução fica demasiado esborratada. Já no pequeno ecrã OLED da PS Vita (pequeno em comparação com um ecrã de um PC), ganha um aspeto mais limpo e apresentável.
Em sintonia com a década de 80, o aspeto visual de Hotline Miami choca pelas suas cores berrantes que contrastam drasticamente umas com as outras, resultando em algo fora do normal mas que garante um traço distintivo e que não deixa de ser aprazível.
A banda sonora desempenha uma tarefa ainda mais importante, dando ritmo ao jogo, contagiando o jogador completo, e funcionando numa sinfonia perfeita com os restantes elementos. É incrível como a banda sonora se adequa às diferentes situações, encaixando que nem uma luva, e como esta se desenvolve ao longo do jogo numa ordem que simplesmente faz sentido para o ouvido. Estamos, de facto, perante um trabalho de qualidade e que merece ser elogiado.
Hotline Miami é na sua raiz muito estranho e com muitos momentos em que perguntamos "Afinal o que se está a passar?", não apenas porque o protagonista usa máscaras de animais que lhe dão habilidades especiais durante as suas chacinas noturnas, mas porque nada parece fazer sentido. O enredo é inteligente e não revela todas as cartas de uma só vez, mas ao princípio tudo é bastante confuso e continuará a ser até aos últimos momentos. Só pelo final do jogo é que as peças começam a encaixar dando sentido ao enredo. A forma como está estruturado é inteligente e mantém-mos agarrados até ao final em duas frentes: pela curiosidade de perceber o que se está a passar e pela jogabilidade altamente viciante.
À partida, tudo o que se sabe é que o protagonista recebe chamadas estranhas no seu telefone indicando-lhe uma morada, e de seguida, entra no seu DeLorean DMC-12 (pelo menos parecer ser este o carro) e conduz religiosamente para a morada indicada. Qual a razão? Não sabemos. Quem está por detrás destas chamadas misteriosas? Também não sabemos. É assim que a curiosidade serve de fio de conduta para o jogo, que é complementada com doses frequentes de loucura que o colocam num grau de alienação tão elevado como o filme "Laranja Mecânica".