Katamari Forever
Roll over Beethoven.
Katamari é um daqueles caricatos projectos oriundos do Japão que convenceu e conquistou uma boa parte da audiência mundial, ganhando margem para lá do tradicional reduto nipónico onde são frequentes iniciativas ousadas e surrealistas ao ponto de deixar pasmado o comum dos ocidentais. Mas lá está, se a ideia funciona, porque não? A sedução pela bola de Katamari deve muito ao mecanismo de controlo. É fácil pegar e aprender. O esquema passa por rolar a bola de Katamari sobre objectos de idêntica dimensão, aumentando o diâmetro da bola para absorver coisas maiores que, no limite, podem chegar às nuvens. Contudo, o merecido êxito adormecido de Katamari Damacy, a obra inaugural da série, não se deveu somente à física e forma de jogo. A relação entre o Rei do Cosmos e o pequeno príncipe verde obedece a um constante registo de humor e um imperativo de ordem formal no acompanhamento da narrativa, ainda que escassa, mas que acaba por atribuir uma certa coesão entre os níveis.
Numa entrevista à revista britânica Edge, Keita Takahashi, o mentor do projecto Katamari, quando confrontado com a ideia de uma sequela para o seu jogo, não viu com bons olhos a indicação da Namco. Entendia que com outras reproduções perdia-se a originalidade. No entanto, mudou de ideias e permitiu que a editora reforçasse o universo de constelações. Mas neste caso em que a jogabilidade se define absolutamente e se torna no ponto forte do jogo, por mais que se inaugurem outras versões, há um peso da repetição que começa a ganhar forma e sente-se que tudo está visto, apesar dos retoques, inovações, entre outras variantes.
É o que sucede com Katamari Forever. A experiência de jogo do produto original permanece intocável e até há alguns pormenores que facilitam a tarefa de prospecção de novos objectos a colar, mas depois de avançar pelos níveis de jogo percebe-se que o conceito ainda é o mesmo de há 5 anos. No entanto se para os fãs de Damacy este jogo funciona como uma espécie de tributo e recorte dos melhores momentos, embora com menos motivos para marcar surpresa, para os novatos este jogo pode ser uma rica descoberta e logo com a vantagem de a desfrutar no rigor da melhor definição.
Esta revisita deve-se ao Rei de todo o Cosmos, que bateu forte com a cabeça e subitamente entrou num estado de perfeita amnésia. A desmemoria do universo como era concebido deixou uma marca turva, uma cortina de cinzento que se estende por áreas de jogo, muitas delas dos episódios anteriores. Perante a adversidade instalada, coube ao príncipe recuperar a cor, bem como as dezenas de objectos. Com o apoio dos primos decidiram construir um robô nos mesmos moldes do Rei, de modo a recuperar a memória, mas a iniciativa deu asneira, pois a máquina destruiu todas as estrelas do Cosmos, sendo imperativo recolocar as constelações de grandes luzes brilhantes.
É por esta narrativa bifurcada que terá de deambular o príncipe, enchendo as bolas com determinados objectos, dentro de objectivos específicos, e devolvendo cor e boas lembranças ao Rei do Cosmos. Aos poucos restabelece-se a memória. Já com o Rei robô as tarefas obrigam a pequena grande criatura a criar Katamaris de grande dimensão, posteriormente transformadas em novas estrelas.