Metal Gear Solid 3: Snake Eater 3D - Análise
Espionagem, sedução, selva e uma guerra nuclear para evitar.
A Nintendo 3DS foi anunciada durante a E3 de 2010. Mas ainda em Julho desse ano a Nintendo Ibérica por intermédio da divisão para Portugal apresentou no nosso país, em Lisboa, as primeiras amostras jogáveis para o novo sistema portátil que tem no efeito 3D uma das suas principais bandeiras. No quadro das novas demonstrações, um dos jogos que sobressaiu foi Metal Gear Solid Snake Eater 3D. Esta gema da Konami é muito provavelmente a melhor obra da série criada por Hideo Kojima e, para muitos fãs, o seu jogo favorito. Daí que seja com grande expectativa que chegamos à versão completa de um dos jogos que marcou 2004 e para sempre a série Metal Gear Solid.
Alguns apontarão para os seus oito anos de idade e que, como reflexo disso, poderá ostentar algum desajustamento para o quadro das atuais produções. Mas não é isso que acontece. Pese embora revele algumas falhas e a ausência do segundo analógico prejudique a experiência, é impressionante o trabalho aqui operado pela Konami. Colocar numa consola tão pequena como a 3DS um jogo que há oito anos colheu dos mais elevados elogios, é surpreendente. Para os que ainda têm dúvidas, existe uma demonstração na eShop, que desde logo vos dará uma ideia muito clara da qualidade do jogo.
Os mesmos argumentos que validaram o jogo para a PS2 mantêm-se nesta edição exclusiva portátil. Este é um daqueles jogos que envelheceu bem. É um jogo da série Metal Gear que estica pela inclinação de Kojima para o cinema, mas sem cair no exagero do jogo que lhe seguiu. Além disso, Snake Eater 3D revela uma outra qualidade não menos importante, um digno aproveitamento das funções 3D. Queremos sempre jogar com o efeito ligado e não é o mesmo quando puxamos o "slider" para zero. O 3D convence quando seguimos a rastejar pela selva e a densa vegetação ajuda à camuflagem.
Na prática, este jogo não só cabe na 3DS como ganha mais algum brilho e destaque, através de pequenas funções como o uso do giroscópio para que Snake ganhe estabilidade quando atravessa uma ponte ou então a câmara fotográfica para obter um novo padrão de camuflagem. Onde o jogo mais falha é na ausência do segundo botão analógico. Ainda fui capaz de cumprir uma boa parte do jogo usando os botões A, B, X e Y para movimentar a câmara, mas em determinados momentos, quando estamos em combate ou queremos fintar soldados russos sem sermos identificados é quase impossível conseguir uma gestão eficaz e decente da situação. A partir do momento que passei a dar uso ao segundo analógico através do acessório lançado em bundle com Resident Evil Revelations é como se saíssemos de um caminho tortuoso de terra batida e entrássemos numa auto estrada.
O "gameplay" ganha uma outra fluidez e temos toda a resposta adequada que o segundo botão analógico proporciona para negociarmos facilmente a melhor perspetiva qualquer que seja a situação. Contudo, e mesmo com o segundo analógico ativado detetamos alguns problemas quando entramos em combate. A Konami optou por dar três opções para fazer pontaria; uma perspetiva para a primeira pessoa, como se fosse um FPS, uma perspetiva na terceira pessoa com comandos manuais e uma outra que opera alvo automático aos inimigos desde que Snake esteja a apontar para eles. Esta última é das três a melhor caso tenham de apontar uma arma aos inimigos e disparar caso tenham ativado o alarme.
O método através da perspetiva na primeira pessoa oferece claras dificuldades devido a um efeito de arrastamento que acontece quando deslocamos a arma. A perspetiva na terceira pessoa oferece melhor precisão aliada a um campo de visão mais generoso mas não nos permite focalizar pontos em concreto. De tal modo que por vezes pretendemos alvejar uma perna ou a cabeça de um soldado com a pistola de tranquilizantes e o disparo sai ligeiramente ao lado, ativando o alarme desnecessariamente.
Isto pode tornar o jogo mais complicado se pretenderem passar as sucessivas áreas sem entrar em confronto. É óbvio que enquanto jogo de espionagem e ação furtiva, são convidados a passarem despercebidos pelos inimigos e isso é um fator aliciante - acabar o jogo sem matar soldados inimigos com exceção dos bosses. Mas por vezes será imprescindível entrar em combate, daí que a melhor forma seja recorrer à mira automática, sendo que para tal basta apontar a arma na direção dos inimigos e disparar.
Se Metal Gear Solid Snake Eater 3D é um jogo espantoso visualmente, capaz de impressionar qualquer um, sendo mais um exemplo de que a 3DS é muito diferente da antiga DS e mais poderosa do que alguns podem pensar (ainda que nesta altura Resident Evil: Revelations, Mario Kart 7 e Super Mario 3D Land sejam outros grandes jogos em termos gráficos), a verdade é que nalguns momentos de alta densidade de combate ocorrem quebras de "frame rate". São poucas as situações onde sentem esse efeito de arrastamento e felizmente as épicas e notáveis batalhas contra os bosses continuam esplendorosas.
De resto, se não podemos afirmar que esta obra atinge a perfeição em termos gráficos, não é por revelar algumas quebras nos "frames" que não deixa de chegar perto, para mais quando pensamos na dimensão, arquitetura de níveis e composição cinematográfica. Nisso é fenomenal e percebemos que a Konami fez tudo o que estava ao seu alcance para manter os predicados do jogo original, conseguindo um resultado que nos revela que a 3DS pode executar grandes jogos, basta que os produtores apostem nela.