Pandora's Tower - Análise
A última grande aventura para a Wii?
O fim de ciclo de uma consola é revelador de uma série de dados interessantes. Algumas produções, por força de maior maceração, encontram a sua janela de oportunidade quando o sistema se prepara para ser substituído por uma máquina com outras ambições. Mas também sucede com alguns produtores, que só depois de um longo relacionamento com o sistema, encontram a receita certa para materializar todo o potencial da consola. Na Sega Saturn, foi no fim do seu ciclo, que nos chegou Panzer Dragoon Saga, da Team Andromeda, mais uma parafernália de shooters que nunca chegaram a sair do Japão. A Dreamcast entregou a sua alma ao criador com Shenmue II, Skies of Arcadia, Ikaruga e a GameCube foi serrada ao meio com Resident Evil 4, Killer 7 e Zelda Twilight Princess.
A história da Nintendo Wii ficará para sempre marcada pelos jogos de movimentos que transportaram a consola para milhares de lares. Os jogos casuais alcançaram um resultado impensável quando a Wii foi lançada no final de 2006 e foram essenciais para prolongar a validade de um sistema com arquitectura datada por mais algum tempo. Ainda hoje alguns desses jogos continuam a vender, sendo quase contraditório como é que que os jogos apontados aos jogadores veteranos que muito reclamaram pela sua criação, como os títulos de role-play, não vendem como deveriam.
De qualquer modo, se no final do ano passado a Wii recebeu o excelente Zelda: Skyward Sord, para uma adaptação notável dos comandos normais aos movimentos, num épico de uma geração, foi meses antes, ainda em Agosto, que a consola recebeu a primeira pérola de uma série de jogos de role play. Tetsuya Takahashi e Hironobu Sakaguchi, cada um à sua maneira, criaram experiências que mais depressa encontram conforto em nichos e pequenas comunidades devotas de tudo o que é especialidade japonesa, do que no espaço reservado aos adeptos dos jogos casuais. O mercado para este género anda em crise, mas é a consola que recebe estes exclusivos e ninguém pode acusar a Nintendo de ter faltado ao prometido.
Não surpreende que daqui por uns anos haja um culto e sentido de reserva quando se aborda o fim de ciclo da Wii. Depois do magnífico Xenoblade, seguido do tocante e emocional Last Story, chega-nos uma outra história de travo nipónico. Pandora's Tower é mais uma alternativa aos outros rpg's e mais um jogo que arrisca nos comandos por movimentos.
Pandora's Tower é uma história de devoção, afeto e amor. Cliché, então? Seguramente. Quase todos os jogos de role play nipónicos partem de lugares comuns e são bons nisso. É o que importa. Fazer tudo aquilo que estiver ao nosso alcance por alguém que gostamos é humano e não deve ser uma obrigação. Quando Aeron descobre que Helena, a sua encantadora amada, é vítima de uma macabra maldição, a vê parcialmente transformada num monstro e que só ele pode entrar na fortaleza das 13 torres para derrubar 13 colossais criaturas, mergulha na fenda de Okanos, nos confins da Terra.
Mas há outra personagem fulcral para o desfecho deste enquadramento narrativo. Mavda, uma sinistra velha misteriosa que transporta às costas uma jocosa ceifeira da noite, descende dos Vestra, uma avarenta tribo de vendedores. É a ela que Aeron irá comprar e vender bens úteis para a campanha, mas, verdadeiramente, o que interessa saber é que Mavda conhece a maldição que atinge Helena e sabe como arrancar a esta pobre criatura a tatuagem flamejante que lhe queima as costas. Para acabar com a maldição de Helena, Mavda diz a Aeron que ele terá de trazer carne de besta.
Bem precioso e pago a peso de ouro, provém dos monstros que habitam nas torres. A equiparação com Shadow of The Colossus é a primeira coisa que salta dos nossos olhos. No jogo da Sony, o jovem protagonista também lançou a primeira pedra sobre cada um dos Colossi . Se queria salvar a sua amada, era impreterível que o fizesse. A influência passa também pelas gigantescas criaturas que Aeron irá enfrentar. Treze ao todo e cada uma com o seu padrão de ataque e defesa. O conceito base é partilhado com o jogo da Sony, mas a execução é outra, apoiada numa estrutura fortalecida no confronto com inimigos e com a corrente mágica de Oraclos que Aeron transporta. Esta relíquia entregue por Mavda é o toque distintivo de Pandora's Tower e o cordão que une Aeron a Helena.
Esta correia é fundamentalmente uma arma. Sendo o meio que dispõe para atacar os inimigos, retirar-lhes objetos e porções de carne, será igualmente necessária para interagir com elementos do cenário, abrindo portas e criando condições para aceder a zonas elevadas. Outra característica que acrescenta mais algum relevo à missão de Aeron é o tempo limite que dispõe para trazer até Helena a carne das criaturas alojadas nas torres. No canto inferior esquerdo existe um indicador que mostra como se encontra a infeção de Helena. Comendo uma porção de carne, a jovem consegue restabelecer por completo ou apenas parcelarmente a condição normal do seu corpo. Assim que Aeron entra numa torre começa a contar o tempo até que a maldição transforme por completo Helena num monstro.