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Sonic Unleashed

Da noite para o dia!

A transição da série Sonic para as três dimensões não tem sido um processo tão simples como seria, normalmente, de esperar. Durante anos, as versões a duas dimensões ditaram um respeito absoluto e de pleno agrado para os mais directos seguidores habituados a uma jogabilidade directa, acolhedora e sem grande complexidade visual, mas desde Sonic Adventure para a Dreamcast que os produtores claudicam na hora de fabricar uma versão doméstica adaptada às recentes maravilhas tecnológicas capaz de recrudescer, com encanto, todo o espírito da série. Na sua maioria os fracassos das versões prévias a Unleashed ficaram-se a dever a erros de programação, assim como uma manipulação pouco precisa da visão na terceira pessoa, causando sérias dificuldades para a devida integração da personagem no cenário. A física da personagem não foi das melhores e quando se justifica uma compatibilização com sequências de plataformas algumas dificuldades ressurgem, tanto mais que os produtores pretendem manter a toada de velocidade que sempre foi apanágio da série.

A versão agora em análise, correspondente à PS3, tem um alcance distinto, mas também vacila em alguns momentos. Exceptuando a composição gráfica, com um colorido marcante na aventura do famoso ouriço adaptada à alta definição, nem por isso alguns dos padecimentos apurados na PS2 deixaram de se registar, sobretudo nos níveis desenrolados à noite, quando Sonic se transforma numa versão felpuda de garras afiadas e braços extensíveis capazes dos mais severos golpes. Na senda da inovação e à procura de uma estrutura aspirante a quebrar uma sequência linear por iniciativa dos ambientes nocturnos (que muito lembram o sistema de Zelda em Twilight Princess), os níveis conduzidos por Werehog não atingem o pico do divertimento e génese do clássico quando Sonic percorre extensas superfícies à luz do dia.

Dentro dos segmentos mais sombrios o jogador percorre áreas e mais áreas repletas de inimigos, anéis, moedas e outras medalhas, como se estivesse dentro de um capítulo de God of War, desbravando inimigos à custa de golpes brutos, embora de grande simplicidade e algo básicos como bofetadas, saltos com golpes aéreos, assim como a possibilidade de agarrar um inimigo para o arremessar aos demais. Porém, neste esquema bem ao jeito das plataformas, aventura e permanente acção, com uma variedade de golpes mais abundante em comparação com o Sonic diurno, ocorrem alguns problemas como a movimentação da câmara em torno do protagonista, seja para direccionar para a posição em avanço, seja para uma visão adequada de uma luta com “boss” onde é essencial garantir uma boa perspectiva. O grafismo apesar de satisfatório e globalmente bem conseguido, não alcança o mesmo patamar dos níveis diurnos e por vezes há uma notória quebra na frame rate. Por outro lado algumas sequências despoletadas através dos quick time events não merecem o melhor desenvolvimento, sobretudo pelo tempo limitado em demasia para se dar uma resposta.

Nas secções diurnas a jogabilidade tem o expoente old school da série, envolvida num grafismo cuidado e convincente.

Numa outra margem, com uma abordagem mais entusiasmante, melhor gizada e mais objectiva, estão os níveis completados por Sonic, no seu estado natural, para gosto dos fãs, durante a luz do dia e por vezes com a companhia do duas caudas (Tails). Com alicerces para exploração e aventura, esta disposição funde-se com frequentes ritmos de grande velocidade, loopings da praxe e saltos incríveis para formar autênticas sequências “on-rails” devoradas a um ritmo estonteante.

Neste caso os níveis convencionam determinados momentos; há que distinguir o controlo horizontal, em que o jogador se limita a transitar de uma posição mais à direita, central ou esquerda, consoante haja moedas e outros obstáculos, até um controlo vertical bastante próximo e acolhedor dos episódios de Sonic em 2D de forma a saltar mais alto para recolher mais anéis e garantir uma velocidade supersónica. O trabalho gráfico é mais impressionante, particularmente visível quando se atravessa uma zona superior e se obtém uma percepção mais global de parte da área em progressão.