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The Banner Saga - Análise

A combinação perfeita entre história, escolhas e estratégia.

As decisões sempre existiram nos videojogos desde a sua concepção. Seguir pela esquerda ou pela direita, disparar agora ou um segundo mais tarde, por mais triviais que sejam, são momentos que forçam o jogador a tomar uma escolha. A pior consequência que poderia surgir daí, rebobinando uns anos, era dar de caras com o clássico ecrã de "Gameover", onde podíamos sempre escolher tentar novamente. Ora, esta é uma das mudanças que temos vindo a observar em anos recentes, as nossas escolhas ganham cada vez mais relevância nos videojogos e contribuem para o desenvolvimento da narrativa, criando um compromisso entre o jogador e o mundo virtual. As decisões já não são feitas sem pensar ou sem querer saber das consequências, primeiro pensamos no que pode acontecer e a seguir decidimos.

Dois casos que me vêem imediatamente ao pensamento no que toca que a dar valor as nossas decisões e demonstrar as respectivas consequências são The Walking Dead e Mass Effect. Ambos marcaram por tornar as suas histórias em algo pessoal, nas quais participámos directamente ao realizar escolhas, e por familiarizar as suas personagens tão bem com o jogador que deixam de ser simples bonecos animados que vemos no ecrã, é criada uma preocupação genuína com o destino de cada um delas. The Banner Saga, um dos frutos do Kickstarter, é mais um jogo que aplica com perícia o que acabou de ser descrito, conseguindo ser em simultâneo um jogo de estratégia duro de roer.

The Banner Saga surpreende por fazer tantas coisas bem ao mesmo tempo, um sentimento largamente amplificado quando descobrimos que foi criado por apenas três pessoas. Quando começamos a jogar sentimos de imediato as influências e aonde os produtores foram buscar inspiração. A inspiração na mitologia nórdica é óbvia, e depois há particularidades semelhantes a Game of Thrones. Tal como esta série de livros/televisão, há várias histórias a decorrer em paralelo, mas todas acabam por juntar-se e formar um arco narrativo global.

A previsibilidade não faz parte do vocabulário de The Banner Saga. Se estão fartos de jogos previsíveis, aqui está uma fuga a essa monotonia. Nunca sabemos o que nos aguarda a seguir, e até as escolhas de diálogo que parecem inofensivas contribuem para alterar o rumo do enredo. Mas nada disto teria importância se não tivesse sido feito um excelente trabalho no que toca a criar laços com as várias personagens.

As personagens não são apresentadas com uma história de origem nem algo semelhante. Ficamos familiarizados com elas pelos seus diálogos, pelas suas acções e pela forma como reagem perante diversas situações. E pouco a pouco, o destino de cada personagem começa a importar. A caracterização das personagens é feita de forma minimalista, recorrendo sobretudo a diálogos animados em 2D, mas funciona na perfeição.

"The Banner Saga surpreende por fazer tantas coisas bem ao mesmo tempo, um sentimento largamente amplificado quando descobrimos que foi criado por apenas três pessoas."

The Banner Saga começa com uma pequena introdução que serve para dar contexto ao mundo fictício da aventura. "Os deuses estão mortos" é a primeira frase que se pode ler. A interpretação que devem fazer é literal. Os deuses estão mesmo mortos no mundo de Banner Saga, ou pelo menos é aquilo que as pessoas acreditam. A morte dos deuses foi acompanhada de um fenómeno estranho, a paragem do sol. Em simultâneo, há uma praga vinda do norte, criaturas gigantes chamadas Dredge, que ameaçam destruir tudo na sua passagem. A única força capaz de deter estas criaturas é uma aliança formada entre a raça dos Homens e os Varl, uma espécie de Vikings com o dobro do tamanho de um humano.

Feita à introdução, é dado início a uma jornada que durou, no meu caso, cerca de 10 horas. Jornada é mesmo a palavra ideal para ser aplicada a The Banner Saga. Um dos seus elementos característicos são as viagens. A estrutura de navegação no mapa é linear, que embora seja rico em localidades e nas suas descrições, não podemos escolher para onde viajar, o caminho foi traçado pelos produtores em prol da narrativa. Mas uma coisa é certa, quando viajarem do ponto A para o ponto B, vão viver cada dia da viagem.

A deslocação pelo mapa tem uma estrutura por dias. Claro que um dia em The Banner Saga não é equivalente a 24 horas reais; na realidade um dia dura apenas alguns segundos. O que acontece nas viagens é que as torna interessantes. Antes de tudo, temos que nos preocupar com a logística. Para deslocarmos exércitos inteiros, às vezes juntamente com mulheres e crianças, temos que ter alimentos suficientes, que podem tornar-se escassos, o que resulta na perda de soldados para a fome. Descansar também é importante, mas um dia de descanso sem comida resulta em mais soldados mortos. Continua a andar sem descansos é uma opção, mas deixa a moral em baixo, o que tende a criar situações más.