TNA Impact!

Há algo de transcendente e apoteótico nas lutas de Wrestling, os combates de luta livre, corpo a corpo, desenvolvidos num palco semi-fechado com montes de adeptos à volta que se dividem entre incentivos e apupos. Talvez por acompanhar alguns campeonatos à distância apenas quando faço zapping na tv, nunca despendi grande tempo a explorar devidamente se a pancada viril e violenta que se desencadeia naquele estrado é séria e eles agem mesmo como cães danados ou se não passa tudo de um pacto; uma encenação para causar o efeito surpresa de incidente fatal na assistência e para quem segue a bofetada em casa enquanto bebe um trago de café com uma torrada ou mastiga um rosbife.

Depois há o culto dos contendores, quase tudo na luta livre. Os lutadores tendem a desenvolver um estilo e imagem muito peculiares de forma a distinguirem-se e angariarem correntes de adeptos. Usam acessórios, pintam-se, mascaram-se, apelam a temas e alguns até espalham algo parecido com óleo Johnson pelos braços e tronco nú só para deixar as curvaturas musculares mais sujeitas ao reflexo a expensas da luz vertical dos holofotes. Faz tudo parte do show, do entretenimento. Desde a entrada em cena até ao erguer dos braços triunfantes, captado ao pé e de baixo para cima para a imagem imponente, ninguém fica indiferente aos enormes tombos de luta livre e, no meio do circo, os golpes mais fracturantes são explorados com o registo sensacionalista de quem vê algo fracturante.

À margem de outros campeonatos de luta livre que dão nome a outros congéneres versão videojogo, a Total Nonstop Action Wrestling (TNA) firmou um contrato com a Midway para desenvolver a versão videojogo, naquela que se perspectiva como a adaptação perfeita para as consolas dos golpes voadores e espinhas torcidas sobre a perna. TNA é o filho mais novo dos jogos de luta livre e aquilo que queremos saber é se está em condições para no final levantar o cinto dourado na luta contra os outros rivais da cena wrestling, nomeadamente a série Smackdown.

O jogo destaca-se bem na representação dos lutadores e na captação do ambiente de luta. As personagens parecem verdadeiros clones com feições e traços corporais de grande realismo, movimentando-se e efectuando os levantamentos e reviravoltas de modo assustadoramente fidedigno. Enquanto isso a animação permanece fluida, sem quebras, exibindo um elevado contraste e à volta vê-se o público vibrar entusiasmado cada vez que um lutador submete o outro a uma prisão de membros da qual não se consegue desbloquear. Porém e apesar da versão para a PS3 exigir instalação obrigatória persistem alguns loadings entediantes cada vez que um lutador entra em cena no fim do túnel de acesso ao palco para gáudio dos assistentes. E porque para os dois ou par (no modo tag team) a recepção é inevitável contam-se os tempos de espera a dobrar.

Posto isso e em combate, TNA entrega todos os movimentos possíveis da modalidade, numa liberdade de acção verdadeiramente incrível, que chega a envolver cadeiras espalhadas ao redor do palco para chapá-las bem forte no costado, embora a realização de alguns golpes finais e mais vistosos não seja assim tão simples de executar. No entanto o confronto com o adversário começa pelos golpes básicos como pontapés e socos, sendo possível moderar a rudeza e força do golpe. Aqui cada lutador desenvolve os movimentos ao seu jeito e feitio. Mas o adversário pode controlar o tempo da acção e executar uma acção defensiva capaz de lançar um contra-ataque.

No entanto é a partir destes pequenos ataques, capazes de levar o adversário ao chão, que a pancadaria arranca para doses bombásticas de tombos, membros praticamente torcidos e cotoveladas potentes feitas a partir de um salto em cima das cordas. Encadeando os ataques a acção é rápida e articulada, sempre sublinhada pelo incentivo do público, sequioso por ver os movimentos mais arriscados, e divertida quanto baste ao ponto de até se gerar uma gargalhada tal a forma como os lutadores se empenham em seguir as ordens e fazem os saltos mais arriscados, chapando o peso do corpo contra as tábuas moles.