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Tokyo Jungle - Análise

Será o leão, rei da selva?

O mercado japonês continua a ser uma tentação para quem gosta de experimentar jogos bizarros, excêntricos e de conceitos muito pouco vulgares. Hoje é bem mais fácil usufruir desses jogos devido aos abundantes vídeos espalhados pela rede que deixam perceber as regras de funcionamento sendo quase sempre a língua japonesa uma barreira, embora nada que um faq na internet não ajude a resolver.

Mas também são regulares as editoras que arriscam algum do seu dinheiro para levar a outras partes do globo essas produções, já devidamente localizadas. Tokyo Jungle chega-nos pela mão da Sony Computer Entertainment e é um produto oriundo do trabalho colaborativo entre três diferentes estúdios; a PlayStation C.A.M.P, a Crispy's e o SCE Japan Studio.

Se simuladores de comboios com base nas linhas do Japão ou jogos de karaoke ainda são propostas aceitáveis dentro da oferta normal, o que dizer de um jogo que pretende entrar para a categoria dos jogos de sobrevivência onde os animais são os protagonistas? Interessa lembrar que não foram incluídos zombies humanos nesta árdua tarefa de manutenção pela vida porque a narrativa conta que o homem desapareceu da face da terra e que só os animais, abandonados e com as portas das jaulas abertas ficaram em completa liberdade.

No fundo, Tokyo Jungle é quase um Jardim Zoológico em forma de cidade abandonada. Um jogo no qual o jogador assume o comando de imensos animais, entre predadores e presas, lutando a todo o momento pelas suas preciosas vidas. Para tal e dependendo do animal em comando, terá de caçar os animais mais fracos para comer e conseguir sobreviver e fugir dos eventuais predadores lutando até à morte.

O conceito compreende-se depressa, embora cause alguma perplexidade quando assumimos o comando de muitos animais de estábulo, jaula, casota e caverna. Afinal, num meio tão repleto de heróis que são rostos humanos, é curioso deparamo-nos assim de repente com um conjunto de criaturas que muitas vezes só vemos ao longe. Esse é talvez o ponto de maior relevo assim que chegámos ao ponto de partida e percebemos após a conclusão do "tutorial" que iremos seguir diferentes animais em diferentes missões e em diferentes pontos da cidade.

Há uma grande aposta em criar um ambiente realista sob o qual está uma cidade erguida para usufruto de milhões de pessoas e subitamente entregue aos animais do zoológico. No meio de tanta liberdade, a luta pela sobrevivência faz-se essencialmente nas ruas. O abandono da cidade é o ponto em destaque. A vegetação cresce onde há terra no asfalto. A cidade foi abandonada há uma década. Há carros mal estacionados e deixados à pressa, pontes quebradas, naquilo que se pode classificar como um caos urbano. Recantos dos edifícios servem de abrigo a certos animais, como refúgio ideal para acasalamento. O mapa da cidade é significativo e por ele seguimos as diferentes localidades, devidamente nomeadas, até à meta.

No modo história a estrutura narrativa processa-se através da leitura de "drives" de memória que se encontram espalhadas pelo terreno. À medida que avançam no jogo ficam a saber mais sobre as causas que levaram os animais domésticos a fugir de casa e os animais do zoo a escaparem para as artérias da cidade. Os humanos falam em reações estranhas dos animais. Que eles têm vindo a assumir comportamentos pouco habituais. Daí para a frente abre-se um "background" que se vai alinhando com o conceito do jogo. Diria que Tokyo Jungle podia existir sem história e sem estas peças de memória, mas pelo menos nesta parte sempre é mais um motivo para seguir com interesse.